Porque Tudo Muda...

segunda-feira, 21 de novembro de 2011

No Futuro do Pretérito [1]... (Passagens de um Estágio Docente na Universidade)


O estágio é um dos componentes curriculares para a formação profissional, é neste momento em que situamos as não fronteiras entre teoria e prática, posto que diante dos conhecimentos específicos apreendidos durante a vida acadêmica mais as habilidades e técnicas estudadas para o ensino, demarcamos o quanto aprendemos para o desenvolvimento de nossa profissão, que neste caso é a de professor de História. Mas junto com o estágio se iniciou um conjunto de problemas, desafios e argumentos sobre ele (o estágio) em si mesmo.

Para início de conversa, o semestre em que se desenrolou este estágio se tornou motivo de desestímulo e cansaço, pois devido a um estado de greve por mais de três meses, o semestre passou a ter a aparência de “interminável”. Vale salientar que, ainda no início, este semestre seria balizador em muitas questões para a minha formação acadêmica, mesmo sendo este memorial sobre a disciplina Estágio Curricular Obrigatório II, não há como desvinculá-lo de todo o conjunto de disciplinas em que o estudante é orientado a se matricular no sexto semestre de Lic. Em História na UEFS, a saber: Brasil III, Contemporânea I, Pesquisa IV e Ciência Política, além é claro do próprio Estágio II. Dito isto, faz necessário saber que este foi o semestre em que mais fui compelido a me dedicar ao estudo, à leitura, à problematização do saber acadêmico em geral, tendo em vista que este conjunto de disciplinas, a partir de seus docentes, criaram problemas histórico-acadêmicos o semestre inteiro (e nem o semestre e nem os problemas foram pequenos).




Atendo-se ao Estágio II, estive motivado desde o início, esta era uma das disciplinas que eu tinha mais curiosidade, pois é o momento universitário além-muros, lugar de construção do saber fazer acrescido do saber aprender no lugar de direito do professor: a escola. Todavia, desde o início da disciplina, foi transparecendo o quão doloroso seria a realidade estagiária, que em certa medida tem haver com o método utilizado pelo professor de Estágio, e haver também com a maneira pela qual cheguei a disciplina, isto é, sem problematizações sobre Educação e História, bem como com a não leitura sistemática dos textos nas disciplinas de Educação anteriores. Assim, estas nuances acarretaram em um desafio maior ao desenvolvimento do estágio.

Acerca do procedimento docente do professor de Estágio, foi uma experiência conflitante desde o início, tendo em vista que a cada aula aparecia mais a distância entre o vivido na universidade e a realidade que nos esperava em sala de aula. Outro conflito também foi a maneira de como construir a proposta de intervenção pedagógica, no primeiro momento pareceu fácil (era somente escrever o que fazer na aula e pronto), contudo o que pareceu ser simples se tornou complexo. Não houve um conjunto de leitura propostas nesta disciplina para montar um planejamento didático, talvez isto tenha sido o agente dificultador, por exemplo, quando houve a discussão sobre avaliação a partir do texto referenciado, houve para mim uma maior compreensão sobre a discussão dos processos avaliativos em sala de aula. Se de um lado senti carência de textos, existiu do outro uma correção incessante das propostas de intervenção pedagógica que sempre tinha “um algo a mais” ou “um algo a menos” a ser explicitado. Confesso que em alguns momentos isto passou a ser desestimulante, uma vez que parecia ser impossível fazer algo razoável, entretanto depois de muitos cafés, menos horas de sono, e sem dúvida, o retorno às leituras que ficaram para trás, acredito que houve melhoras não só na escrita do planejamento, como também na acepção e concepção de aula de História para ensino fundamental.



Ainda falando da parte do estágio que se dá na universidade, as aulas em sua maioria foram bastante produtivas, principalmente cujas aquelas foram sobre debates de textos acerca da formação docente e das discussões sobre o andamento do estágio nas escolas, no entanto para mim, exisitiu uma deficiência bibliográfica, poderia ter tido mais indicações de referências textuais para a nossa formação durante o Estágio II. Outra coisa importante a ser destacada é a carga horária real de estágio, em que pese a necessidade da orientação do professor de estágio durante a regência nas escolas, há uma excessiva quantidade de horas que devemos ficar atrelados a sala de aula na universidade, juntamente com o período de leituras, de planejamento de aulas, de ACs e de regência propriamente dita, tudo isto ultrapassa em muito as 105h contidas na proposta curricular para o Estágio II do curso de História, é preciso rever a disposição no que se refere a carga horária das aulas de Estágio para um bom funcionamento dele mesmo, a fim de otimizar as orientações, observações e as atividades do estágio.

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sábado, 19 de novembro de 2011

Uma viagem de Trem...

Este post originalmente foi escrito para: Deus nos Amou Primeiro (03/mar/2010), mas diante dos últimos acontecimentos na cidade da Bahia acerca da mobilidade urbana, onde a presidenta Dilma Roussef liberou R$ 1,6 bi para o chamado PAC Mobilidade Urbana, decidi respostar aqui minhas impressões de uma viagem de trem...

Nas imediações do Centro de Abastecimento de Paripe eu tinha duas opções a priori para voltar a meu lar em Sussuarana, ir pela Estação Pirajá e fazer baldeação ou realizar minha primeira viagem de trem e pegar um ônibus na Calçada em direção a minha casa (o caminho mais longo). Aqueles que leram o titulo da postagem já sabem qual foi minha atitude... 



Logo que cheguei ao guichê, por não saber quanto era a tarifa, entreguei R$2,00 em uma fresta entre o balcão e um vidro totalmente opaco, recebi R$1,50 de troco e ainda aguardei uns segundos no intuito de ter algum bilhete, no entanto uma voz ecoou daquele lugar que o vidro escondia: “ta esperando o quê”?! Polidamente respondi: “nada” – e me dirigi às catracas.



 
A estação de Paripe, a qual eu embarquei me pareceu meio abandonada, mesmo com a aparência de recém-reformada. Gradativamente o terminal de passageiros foi enchendo e depois de uma espera aproximada de 30min o trem chegou.  O trem contrastava com o aspecto da Estação, moderno e vistoso, estava relativamente e cheio e depois do desembarque dos passageiros adentrei à minha primeira viagem sobre trilhos. Entrei no primeiro vagão sentido Calçada (como o trem não faz curva de 180° isso faz diferença).

 
Ao me sentar em um dos poucos assentos que restavam percebi que havia três protestantes com características neopentecostais pregando, na verdade um falava, o outro com um celular moderno registrava através de fotografias momentos da pregação e outro fazia uma espécie coro de uma pessoa só com frases do tipo: “aleluia”, “aleluia glória Deus”, “aleluia Deus seja louvado”, “olha aí”, “é verdade”, “amém senhor Jesus”, “louvado seja o nome santo do senhor”, (além de outras deste mesmo gênero), percebi desde então que a viagem seria interessante, mas não me deterei a este aspecto.

 
Assim que entrei, vi também que o trem era moderno e confortável por dentro e descobri o trajeto que eu faria até chegar à Calçada através de um adesivo da Prefeitura no interior do vagão: Paripe (de onde parti), Coutos, Periperi, Itacaranha, Escada, Almeida Brandão, Lobato, Santa Luzia, Calçada (para onde eu ia). Confesso que fiquei perplexo com a paisagem exuberante da Baia de Todos os Santos, este trajeto deveria ser também turístico! 


 
Logo saindo de Paripe é possível avista a baía de Aratu (porção norte da Baía de Todos os Santos), o trajeto é feito quase ininterruptamente à beira mar. Como o dia hoje foi de muito sol, o azul da água do mar cintilava e realçava a beleza daquela paisagem. O trajeto tem um breve túnel se aproximando da Estação de Escada e uma ponte sobre a enseada dos tainheiros no Lobato onde tive uma das mais belas vistas dos últimos tempos.



 
Nas imediações e Ao passar pela ponte é possível avistar a praia da Ribeira, a Ponta de Humaitá em primeiro plano, o Comércio em segundo plano e a Cidade Alta em terceiro Plano, com aqueles prédios suntuosos do Corredor da Vitória rasgando o azul do céu. Uma paisagem estonteante e de tirar o fôlego. Outra paisagem nesta região que causou admiração foi os trabalhadores que catam mariscos e crustáceos no Lobato, dezenas de pessoas tirando seu sustento do mar numa faixa de mangue que adentra o mar, uma coisa emblemática e por fim ainda nesse trecho, acho que chegando a Santa Luzia e em direção a parte mais continental do Subúrbio o trem passa próximo a paredão de pedras que devem chegar a uns 20m de altura, com construções irregulares tanto na base como no topo dessa colina, algo muito surpreendente, a maneira como a população vai encontrando espaços diante do déficit habitacional da metrópole baiana.



Finalizando o percurso em pouco mais de 35min cheguei a Calçada e ainda muito entusiasmado com tudo que vi e apreendi nesta viagem de trem... Muito mais econômico, sem transtorno de ruas congestionadas e acredito que mais favorável ao meio-ambiente do que nossos queridos ônibus...

E daí fica: Salvador, 3º maior cidade brasileira tem previsão de inaugurar em 2011 (quando escrevi isso em mar/2010) 6 km de metrô, que liga praticamente um centro da cidade a outro centro da cidade, que não privilegia a periferia e o subúrbio e onde já foram investidos quase R$1 bi para sua construção. A população pobre e marginalizada que aparece nas propagandas do governo, mas não é a real prestigiada com o alto volume de investimentos vindos para a Bahia e Salvador precisa tomar uma atitude diante do caos em que vem se configurando nossa cidade. Vamos a Luta!

Fotos: skyscrapercity

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sexta-feira, 18 de novembro de 2011

Comissão aprova regulamentação da profissão de Historiador...



A Comissão de Trabalho, de Administração e Serviço Público aprovou proposta que regulamenta o exercício da profissão de historiador. De acordo com a proposta, historiador é o profissional responsável pela realização de análises, de pesquisas e de estudos relacionados à compreensão do processo histórico e pelo ensino da História nos diversos níveis da educação.

O texto aprovado é o Projeto de Lei 7321/06, do deputado Jovair Arantes (PTB-GO), que tramita apensado ao PL 3759/04, do ex-deputado Wilson Santos. A relatora, deputada Alice Portugal (PCdoB-BA), recomendou a aprovação do projeto apensado, com emenda, e a rejeição do projeto principal. Segundo ela, os projetos regulam a matéria em termos análogos, mas o PL 7321/06 não obriga o Poder Executivo a criar conselho de fiscalização do exercício profissional, como faz o PL 3579/04 – o que é inconstitucional. “Tais conselhos são considerados autarquias especiais e só podem ser criados por meio de lei de iniciativa do Presidente da República”, explica.

O PL 7321/06 prevê, porém, a inscrição do historiador em conselho de fiscalização do exercício profissional. A emenda da relatora retira essa previsão.

Profissionais habilitados

Segundo o projeto, poderão exercer a profissão de historiador no País:

- quem tiver diploma de nível superior em História, expedido no Brasil, por instituições de educação oficiais ou reconhecidas pelo governo federal;

- os portadores de diplomas de nível superior em História, expedidos por escolas estrangeiras, reconhecidas pelas leis de seu país e que revalidarem seus diplomas de acordo com a legislação em vigor;

- os diplomados em cursos de mestrado ou de doutorado em História, devidamente reconhecidos;

- os que, na data da entrada em vigor desta lei, tenham exercido, comprovadamente, durante o período mínimo de cinco anos, a função de historiador.

Para exercerem as funções relativas ao magistério em História, os profissionais deverão comprovar formação pedagógica exigida em lei.

Atividades

A proposta também define as atividades e funções dos historiadores, entre elas:

- planejar, organizar, implantar e dirigir serviços de pesquisa histórica, de documentação e informação histórica;

- planejar o exercício da atividade do magistério, na educação básica e superior, em suas dimensões de ensino e pesquisa;

- elaborar critérios de avaliação e seleção de documentos para fins de preservação;

- elaborar pareceres, relatórios, planos, projetos, laudos e trabalhos sobre assuntos históricos;

- assessorar instituições responsáveis pela preservação do patrimônio histórico, artístico e cultural (museus, arquivos, bibliotecas).

Tramitação
A matéria segue para a análise, em caráter conclusivo, da Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania.
Íntegra da proposta: 
PL-3759/2004
PL-7321/2006

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segunda-feira, 7 de novembro de 2011

Anotações sobre o Imperialismo... [2]

UZOIGWE, Godfrey N. Partilha europeia e conquista da África: apanhado geral.




O texto de Godfrey Uzoigwe começa com uma explanação das diferentes teorias surgidas para explicar o fenômeno iniciado no fim do século XIX, a saber, o imperialismo: que conquistou e partilhou a África entre as grandes nações europeias. O autor começa citando que há três tipos de explicações comumente discutidas: a)teoria econômica; b)teorias psicológicas (darwinismo social, cristianismo evangélico, atavismo social); c) teorias diplomáticas (prestígio social, equilíbrio de forças, estratégia global); d) teoria da dimensão africana. Uzoigwe diz que a teoria com a qual ele concorda é a da dimensão africana, posto que enfatize a História da África em si, relacionando-a com os fatores externos ligados principalmente a Europa. Esta teoria, segundo ele, é a mais aceita porque diferente das teorias psicológicas que colocam elementos fatídicos do próprio fim do século XIX e das diplomáticas que são muitas vezes a-históricas, a teoria da dimensão africana coloca que a dominação sobrevêm de um longo processo da preponderância europeia em solo africano e que “foram motivos de ordem essencialmente econômica que animaram os europeus e que a resistência africana a crescente invasão da Europa precipitou a conquista militar efetiva” (UZOIGWE, p. 51).




Em seguida, Uzoigwe, que tem como objetivo no texto remontar a origem do imperialismo na África situa alguns acontecimentos, que segundo ele, foram decisivos para a efetivação da corrida para a partilha da África. Os eventos considerados por ele são:o interesse que o então coroado rei da Bélgica (1865), Leopoldo I, tinha pela África e a expedição que ele mandou ao Congo para explorá-lo em 1879; as séries de expedições portuguesas a partir de 1876 para anexarem as propriedades rurais afro-portuguesas em Moçambique; e o caráter expansionista da política francesa entre 1879 e 1880 que restabeleceu as colônias da Tunísia e Madagascar, a ratificação de acordos com um chefe político do Congo e do controle do Egito em 1879 junto com o Reino Unido.Estes eventos levaram a Reino Unido e Alemanha, que até então só mantinha interferência indireta em sua colônia, se lançasse também a uma ocupação formal e política nos países com quem mantinham relações comerciais.




A Conferência de Berlim (1884-1885) foi o ponto chave, na visão de Uzoigwe, para a definição do futuro traçado territorial na África a competição imperialista iria delinear neste continente. A presença da Europa no continente africano data de período anterior a Conferência de Berlim, as potências europeias já mantinham colônias, exploração de recursos naturais, entrepostos comercias, estabelecimentos missionários, bem como tratados politico e/ou comerciais com chefes políticos africanos. A presença de determinado país europeu em certos territórios africanos foi muitas vezes argumentado a partir destes tratados políticos e/ou comerciais de longa data, afirma o autor do texto. Além destes tratados, na sua maioria duvidosos,como aponta Uzoigwe, havia os acordos bilaterais entre as próprias nações europeias, que definiam em alguma capital da Europa o futuro de milhares de habitantes em diversas regiões da África.
Em que pese uma série destes acordos, quer seja entre soberanos africanos e Estados europeus, ou ainda entre as próprias nações europeias, as contradições dos acordos levados a cabo, as diferentes noções de ocupação efetiva criaram bases para a ocupação militar sistemática do hinterland, isto é, do interior africano. O autor narra uma série de conflitos militares entre países europeus e reinos africanos, ou ainda entre os próprios europeus (de forma mais diplomática que militar), na ocupação e divisão dos territórios interioranos da África.




Uzoigwe conclui o texto traçando alguns dos motivos que levou a vitória dos europeus sobre africanos: a) o conhecimento sistemático da geografia física e humana que os europeus detinham sobre a África, coisa que os africanos despossuíam em relação a Europa; b) o avanço médico dos europeus que já não temiam doenças como a malária por exemplo; c) o fator econômico, onde havia uma relação desigual entre o comércio entre estes continentes, a supremacia industrial europeia e o grande acumulo de capital levaram os europeus dispensarem grandes reservas a empresa imperialista; d) entre 1880 e 1914 houve um momento de paz entre as nações da Europa facilitando a investida imperialista; ao contrário na África, existia disputas entre vários reinos, deste modo os africanos dividiam a atenção entre a ocupação militar europeia e suas guerras entre reinos. Enfim, após três décadas de retalhamento da África pelos europeus, Uzoigwe apresenta o novo mapa geopolítico africano, afirmando que em 1914 ele nada tinha haver com o de 1879. Foi uma ocupação sangrenta, pelo poder da metralhadora, apesar de conter arbitrariedade em sua definição, fixou traçados nacionais indefinidos até o avanço imperialista do fim do século XIX.

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