Porque Tudo Muda...

sábado, 30 de abril de 2011

Anotações Sobre o Candomblé... [4] (Sacerdócio, adeptos e iniciação)


Assim como em toda e qualquer instituição, um líder se faz necessário para dar direção a comunidade. Nas igrejas protestantes existem os pastores, no catolicismo, os padres, bispos, dentre outros. No candomblé isso não ocorre de forma diferente. Existem os chamados sacerdotes do candomblé: eles estão divididos de forma que cada um tem o seu papel específico.
Para um leigo na matéria, quando se fala de candomblé, os nomes dados aos chefes são “pai-de-santo” ou “mãe-de-santo”. Quem assim proclama não está totalmente errado. Mas na língua yorubá, usada nesta religião, o certo é Babalorixá ou Yalorixá. Fazendo a correlação temos Baba = Pai, Iyá = mãe e orixá = santo. Eles são sacerdotes e chefes de um terreiro de candomblé. São responsáveis por tudo o que acontece no culto e nada é feito sem as suas autorizações. É sempre assim, em cada terreiro têm-se um Pai ou uma Mãe-de-santo, com a função de consultar os orixás através do jogo de búzios. Esse jogo é realizado pelo chefe supremo do jogo de Ifá, o Babalawo. Sabe-se que desde a morte de Martiniano Bonfim, sacerdote supremo do culto de Ifá no Brasil, de 1943 para cá, a tradição afro-brasileira não tem participação ativa de um Babalawo. Só agora com os avanços tecnológicos e com a imigração voluntária de africanos para o Brasil, ouve-se falar de novos Babalawos.

Além dos sacerdotes citados, outros de grande importância merecem ser mencionados como: Babalaxé ou Iyalaxé – sacerdote (isa) e líder na sociedade. Esses títulos são dados aos ocupantes dos demais postos hierárquicos do terreiro. Também os Doté ou Doné – sacerdote de Voduns. Tateto e Mameto – sacerdote de Inkices. Bokomon – sacerdote do Vodum Fá. Babalossaim – Sacerdote de Ossaim. Babajé – Sacerdote do culto aos Egungum. Todos esses possuem funções específicas, mas todos estão preparados à assumir outros portos, caso um falte em seu trabalho. Um Babalaxé pode agir, caso necessário, como um Doné.
Mas nenhum líder trabalha sozinho. Ele conta com a ajuda de um grande número de auxiliares. Além da função sacerdotal, os sacerdotes do candomblé são responsáveis também em ser conhecedor das folhas sagradas, seus segredos e aplicações litúrgicas entre outras tarefas. É através do ritual de iniciação que a pessoa torna-se membro do candomblé. Esse ritual realizado pela yalorixá ou babalorixá tem como objetivo, introduzir a pessoa na comunidade sócio-religiosa.




É importante para a iniciação, saber o orixá da pessoa (o orixá que rege a cabeça da pessoa). O babalorixá antes de fazer o ritual deve consultar Ifá, o orixá da sabedoria, certificando-se sobre quem é o regente da pessoa. Caso aconteça de o regente da pessoa ser um e na consulta com Ifá der outro orixá, o indivíduo sofre graves prejuízos. Por que a harmonia com o orixá não será alcançada. Esse processo dura um longo tempo e pode ter custos elevados. O ritual da iniciação começa com uma oferenda a Exú, com o qual a pessoa é convidada no ritual de iniciação, tomar um banho purificador e usar uma veste branca como símbolo de pureza, de despojamento do mundo profano, recebe o colar de pedras com a cor do seu orixá, que fora preparado com antecedência pelo chefe do culto, num rito chamado: lavagem das contas.
O colar é lavado com diversas águas, plantas e sabão vegetal. Ficando um sinal na pedra do orixá, pois é pungido com sangue de um sacrifício. A partir deste momento, há uma ligação permanente e perene com o orixá e seu “filho”. Após este momento, o iniciado é chamado Abiá, o primeiro grau na hierarquia do candomblé. A utilização do colar é um sinal de submissão diante do seu orixá e também diante da yalorixá ou do babalorixá que conduz a iniciação.







REFERÊNCIAS DOS POSTS DA SÉRIE Anotações Sobre o Candomblé...

BERKENBROCK, Volney J. Experiência dos Orixás: Um estudo sobre a experiência religiosa no Candomblé. 1. ed. Vozes, 1998.
CANDOMBLÈ . Acesso em: 29 maio 2008
LIMA, Fábio Batista. CONCEITO DE CANDOMBLÉ . Acesso em 30 maio 2008

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segunda-feira, 25 de abril de 2011

Entre o Karl Marxismo e o Bell Marquessismo

Parece-me satírico o título do texto, não obstante é do lúdico que emergem as idéias, pois a criatividade dos historiadores que prevalecem para demonstrar o contexto histórico em épocas diversas se apropriando das mais variadas fontes. O marxismo ainda é difundido em todo o mundo, sobretudo no Brasil desde os anos de 1930 autores utilizaram o materialismo histórico com afinco para tentar elucidar os estudos, onde o autor Caio Prado Júnior é expoente usando o método no livro intitulado: “Evolução Política do Brasil e Outros Estudos” (1933).

Mas, pela banda Chiclete com Banana ser muito popular, a brincadeira doravante começa no texto, devido às frases que o vocalista Bell Marques diz: “Chiclete é emoção”, “Chicleteiro eu, chicleteira ela, libera, libera, libera”. O Bell Marquessismo é algo inexplicável, mas vou tentar ponderar, pelo fato quem já foi ao Carnaval de Salvador ou na Micareta de Feira de Santana, entre outras festas pelo país pode verificar como é impressionante a multidão que acompanha o trajeto da banda. São as fontes áudios-visuais que se destacam no Bell Marquessismo, sendo um emaranhado de colorido e sons que espalham pelas ruas das cidades.

Aparece no texto de Karl Marx e Engels: “Crítica a Filosofia do Direito de Hegel” que “a religião é ópio do povo”. Já Bell Marques cita que “Chiclete é religião”. É perceptível que a palavra religião é polissêmica por isso abarca tanto o Karl Marxismo quanto o Bell Marquessismo, uma vez que a consciência das pessoas que importa para se livrar do proselitismo. Ambos os métodos catequizam, haja vista quem segue, muitas vezes não consegue enxergar o antagônico. O respeito às diferenças é fundamental abrindo espaço para outras concepções que da mesma forma dissemina conhecimento para ajudar na intelectualidade dos indivíduos e desvendar as mazelas que assola a sociedade. Porém são fascinantes: o marxismo e o marquessismo, de modo que existem pessoas que em suas lentes outras ideologias passam despercebidas.

A Mais Valia de Karl Marx é explicada pela quantidade de horas que os proletários trabalham gratuitamente para os burgueses e, posteriormente recebem um ínfimo salário que não condiz com os esforços. Os países desenvolvidos também são atingidos pelo problema, pois o capitalismo que norteia a economia mundial, não obstante as pessoas pobres dos países subdesenvolvidos que mais sofrem com o problema conseguindo corriqueiramente só suprir necessidades básicas.

Alhures, a Mais Valia de Bell Marques é ilustrada pelas horas trabalhadas pelos cordeiros para a banda Chiclete com Banana recebendo uma ninharia, além de socos, ponta-pé e empurrões para oferecer segurança aos foliões que pagam muito caro os abadas. De quando em vez se ouve o grito de Bell Marques: “um abraço para minha corda”. As classes marginalizadas acompanham a banda fora da corda, cantando e dançando ao som segundo Marques dos “Roling Stones dos Sertões”.

As classes antagônicas: burgueses e proletários são apontadas no egrégio trabalho de Karl Marx, visto que a luta de classes é o trunfo do seu método, ainda que sua escrita seja complexa, a leitura é atraente, que incita cada vez mais os leitores. O livro “18 Brumário de Bonaparte” ligado a História Imediata é um clássico que o autor escreve com maestria sobre a época em que vivencia.

A luta de classes do Bell Marquessismo constata-se nas pessoas que têm dinheiro para comprar o espaço dos percursos da banda pelas ruas, clubes ou quaisquer dos lugares que esteja, com o intuito da diversão, ou a denominação que quiserem, pois há dúvidas se pular atrás da banda independente da hora pode ser encarado como diversão, isso é possível verificar no carnaval da capital baiana e nos outros lugares que a música baiana alcança. Na maioria das vezes quem condiciona os eventos é a burguesia pelo fato de serem cobrados valores inacessíveis ao proletariado.

Na base da pirâmide estão as pessoas que estão impossibilitadas de adquirir o acesso a curtir conforme a mídia: “a maior banda de axé de todos os tempos” de perto, pois é preciso muita energia para se adaptar a multidão que acompanha a banda, isso nas festas nas ruas. Os indivíduos que não dispõem de recursos para comprar os acessos Vips: cordeiros e classes afins, ainda assim vão para casa feliz da vida, depois de acompanhar a banda aos trancos e barrancos, e se exaltam comentando “dei um murro num burguesinho”, quando Bell Marques cantou: “Tira sua saia bem rodada, que lá vem a batucada levantar poeira”, “Cara, caramba, cara, caraô... Vem viver o verão, vem curtir Salvador...”, “Oh maluquete de quem você é tiete, eu sou, sou tiete do Chiclete... Sou natural de Feira de Santana”, “E na palma da mão, todo mundo beleza... Meu bem quero te amar, com todo prazer quero seu beijo”, Oh nana eh, vem babanear eh oh, vem bananear eh ah, vem nana, naná”.

Karl Marx aborda que a estrutura econômica forma a infra-estrutura, enquanto a jurídico-político e a ideológica formam a superestrutura, porém o econômico é sempre determinante. Bell Marques afirma que há sim relevância na estrutura econômica para que os burgueses tenham dinheiro para curtir a banda Chiclete com Banana, frisa ainda que a infra-estrutura determine o jurídico-político e ideológico, o que vale é o dinheiro para comprar tudo e todos os indivíduos. Então o marxismo e o marquessismo atingem uma totalidade social.

Para o Karl Marxismo não é a consciência dos homens que determina seu ser, mas, ao contrário, é o seu ser social que determina sua consciência. O autor conduz os escritos com fineza para fixar nas pessoas o papel da consciência. Já o Bell Marquessismo estar pouco preocupado com a consciência dos homens e das mulheres, quer conseguir seguidores, que sua música chegue até as massas, quer ganhar mais e mais dinheiro. De um lado, os ricos, do outro, os pobres que se contentam em ouvir as canções no período fora de festa carnavalesca e micaretesca, entre outras, somente então se tornando audível pelas quantidades enormes de CDS piratas disseminados pelas cidades, onde o “Feiraguai” é o epicentro da pirataria.

Bell Marques é incisivo ao falar que existem três torcidas na Bahia, quais sejam: a do Esporte Clube Bahia; a do Esporte Clube Vitória; e a miríade de torcedores do Chiclete com Banana. Isso até aqui, é um simples diálogo entre o Karl Marxismo e o Bell Marquessismo, uma tentativa de interface. Enfim, “Não vou chorar, nem vou me arrepender, seja eterno enquanto durou, foi sincero nosso amor, mas meu texto chegou ao fim, oh, oh”.

sábado, 23 de abril de 2011

Falando superficialmente sobre o Populismo na América Latina...

O populismo na visão de alguns autores, como Maria Ligia Prado, é um fenômeno ocorrido na América Latina no século XX entre as décadas de 30 e 60. Esta posição teórica diferencia-se, por exemplo, de uma visão historicista defendida por Althusser, que propõe que os conceitos não são determinados, podendo, portanto ser utilizados em outros momentos. Assim, alguns autores propuseram a existência de populismo ou “populismos”, na Europa e nos Estados Unidos ainda no século XIX. Contudo, partindo de autores como Francisco Weffort, Boris Fausto e a própria Maria Ligia Prado, compreendo populismo como fenômeno latino americano nas décadas de 1930 e 1960.


Quase todos os países da América Latina tiveram formas de governo com características populistas, ou mesmo tiveram movimentos populistas, mas que não chegaram ao poder, a exemplo da Colômbia citado por Ligia Prado. Entretanto, os Estados mais estudados acerca deste fenômeno são Argentina, México e Brasil, talvez pela repercussão e singularidade do populismo nestes países. É importante ressaltar que o chamado “estado de massas”, denominação dada pela historiografia para fazer alusão a um governo populista, se deu em um processo onde as sociedades estavam em um período de transformações econômicas, passando de uma economia pré-capitalista, agrária, atrasada para uma economia industrial, capitalista e urbana. É uma crise nessa transição que leva ao poder um carismático, identificado muitas vezes como um conciliador de classes, deste modo este processo acontece na assincronia de uma transformação a outra.



Falando mais especificamente dos processos históricos ocorridos em cada região, no México, o líder populista foi Cárdenas que chegou ao poder em 1934. Para entender de que forma ele chega ao poder, faz-se necessário uma breve explanação do que já havia ocorrido no México. Os camponeses sempre estiveram ligados as conquistas nacionais mexicanas, vale salientar que a maioria dos camponeses no México são indígenas e desde a independência foram diversos os momentos nos quais estes camponeses foram a luta por melhores condições sociais, porém na segunda metade do século XIX começou um processo de grande concentração fundiária, um desenvolvimento suave na industrialização, construção de ferrovias que ligou quase todo o país, etc. Estas mudanças, implementadas por Porfírio Díaz gerou dentre outras coisas, grande descontentamento nos camponeses, tendo em vista que desmantelou o sistema de propriedade comunal indígena.

O estopim desta insatisfação, tanto dos camponeses pelos motivos anteriormente vistos, quanto de uma burguesia incipiente que estava descontente com a alta centralização do Estado empreendida por Porfírio Díaz e que queria um Estado democrático e liberal foi a Revolução Mexicana. Apesar de Zapata e Villa terem sido os “baluartes” da Revolução, ou seja, os camponeses que mais lutaram por transformações radicais, foi a burguesia liberal que “venceu” a Revolução, levando Obrégon ao poder. No entanto, mesmo com a burguesia no poder, foi promulgada ainda em 1917 durante a Revolução a Constituição do México, considerada uma das mais progressistas da América Latina de então, posto que dentre outras coisas, definia a Reforma Agrária por meio de ejidos, jornada de 08 horas de trabalho aos operários, a não exploração do trabalho de crianças e mulheres. Mas, como vimos, a burguesia chegou ao poder e houve descumprimento de muitas destas leis, inclusive do direito de greve e a Revolução Agrária foi feita em passos demasiadamente lentos para as demandas da sociedade mexicana. Aliados a essa insatisfação ocorreram ainda as crises mineira, petrolífera e agrária no fim da década de 1920, tendo a quebra da bolsa de valores de Nova York em 1929 como um dos principais fatores.


Com todas estas circunstâncias, o México, aliás, a burguesia viu na industrialização, uma maneira eficaz de sair da crise; os camponeses ainda precisavam de terras e com a crise agrária houve escassez de alimentos. A economia mexicana só começa a dar traços de recuperação em 1933, em 1934 Cárdenas como já dito, chega ao poder e tem em seu discurso um princípio legalista: fazer cumprir a Constituição de 1917, deste modo conquista a confiança da população camponesa e dos operários e também de trabalhadores urbanos em geral. E de fato é no governo dele que mais se distribuiu terras, o período onde teve mais greves. Cárdenas, segundo Maria Ligia Prado corporativizou o Partido Revolucionário Nacional, criou comitês de trabalhadores camponeses separados de trabalhadores operários e urbanos. Outra medida foi nacionalizar o petróleo mexicano criando a Pemex S.A. em 1938, sendo o primeiro estado latino americano a ter tal alto. Contudo, com grande desenvolvimento capitalista engendrado no período de Cárdenas, os empresários viam com muita desconfiança seu governo, porém o governo populista de Cárdenas conseguiu manter equilibrada a luta de classes no México com a aliança dos trabalhadores ao Partido e este ao Estado, que por sua vez servia tanto aos trabalhadores quanto ao empresariado, por meio do desenvolvimento deste último.


Pensando de que forma o populismo se deu também na Argentina e no Brasil, podemos destacar a questão dos trabalhadores, uma das diferenças que Boris Fausto apresenta é que no Brasil o populismo ocorreu por imposição do Estado, “de cima para baixo” enquanto na Argentina já havia um desenvolvimento do operariado urbano com grande força sindical. Isto quer dizer que as pressões feitas pelas classes subalternas na Argentina foram de certo modo responsáveis pela ascensão ao poder de Juan Perón na década de 1940, tendo em vista que a década de 1930 foi denominada de “década infame”, pois na Argentina houve inúmera fraudes eleitorais, golpes militares, inclusive um golpe a fim de derrubar outro, decadência econômica, principalmente pela crise na exportação de carne, seu principal produto, fizeram com que aumentasse substancialmente as mobilizações operárias e enquanto a classe dominante queria um Estado menos dependente da Inglaterra.




Já no Brasil, que tinha no café seu principal produto de exportação, viu com a crise de 1929 sua economia praticamente desfacelada, o crescimento industrial de São Paulo já não dava espaço para a manutenção da oligarquia cafeicultora no poder, assim com o golpe de 1930 e a ascensão de Getúlio Vargas ao poder, aconteceu que mesmo com o poder hegemônico em relação ao capital dos industriais, a oligarquia cafeicultora já tinha perdido força política para assumirem as rédeas do Estado, decorrendo disto que autores afirmem ter havido um acordo tácito entre a oligarquia e os industriais. Mas, e os trabalhadores? O que ocorre é que diferentemente do que aconteceu na Argentina, o Estado Varguista foi que de uma certa forma organizou os trabalhadores, a industrialização recente do Brasil havia gerado trabalhadores que promoviam levantes, greves, motins, etc., mas não tinham força política, e é através dessa organização e reorganização sindical que durante o período de Vargas os trabalhadores ganham direitos perante o Estado e os empresários pelo meio da promulgação da Consolidação das Leis Trabalhistas, a instituição do salário mínimo, etc.


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sexta-feira, 22 de abril de 2011

Comentários sobre a Revolução Industrial... [1]

Em meados do século XVIII aconteceu na Europa um fenômeno que transformaria não só a sociedade européia, mas teria efeitos e conseqüências em todas as artes do globo. A Revolução Industrial, como ficou conhecido este processo, aconteceu inicialmente na Inglaterra com o desenvolvimento da indústria manufatureira têxtil que culminou com o aparecimento de máquinas. Em seguida, porém já no século XIX, outras nações européias se industrializaram, principalmente a França e a Bélgica (na primeira metade do século) e a Alemanha (na segunda metade do XIX). Além dos Estados Unidos da América (EUA) que também conheceram sua industrialização em fins do século XIX.

Muitas teorias foram desenvolvidas a fim de tentarem explicar as causas que levaram a Europa a se industrializar, sobretudo a Inglaterra. Cyro Rezende em seu livro História Econômica Geral aponta que se afirmam pelo menos três causas diferentes: a primeira seria a comercial, isto é, o desenvolvimento mercantilista proporcionou grande aumento de capital, sendo este último o principal propulsor para o progresso industrial; a segunda causa colocada é a da Revolução Agrícola, ou seja, no período em que se deu a Revolução Industrial apesar de haver um comércio desenvolvido, a atividade principal do setor econômico era a agricultura e que tinha passado no século anterior muitas transformações e inovações, aumentando sua produtividade e lucros gerando assim condição necessária para um avanço da atividade industrial; e um terceiro em que Cyro Rezende traz a questão financeira, na medida em que o desenvolvimento e aumento de importância dos bancos criaram condições sustentáveis para que se gerasse crédito propiciando o incremento no setor industrial.



Destarte, todas as teorias apontadas, faz-se necessário perceber que nenhuma delas podem ser colocadas como causa única da Revolução Industrial, é imprescindível compreender que no movimento sincrônico da História, uma confluência de fatores mais gerais, como os anteriormente citados, em consonância ainda com as questões locais e regionais é que promoveram o que denominamos Revolução Industrial.





Todavia, porque denominar Revolução Industrial? Esta indagação pode ser esclarecida quando são expostas as conseqüências destas mudanças ocorridas no setor industrial europeu tendo a Inglaterra como parâmetro. Ao se perceber o que significou a criação das máquinas de tear e fiar pode-se imaginar quais mudanças foram essas. A introdução destas máquinas aumentou em graus surpreendentes a produção, que por sua vez necessitou mais mão-de-obra, que precisava de mais mercado consumidor e que por sua vez gerava mais demanda de produção. Isto gerou um aperfeiçoamento da técnica, as máquinas que tinham propulsão humana, passaram a propulsão animal e depois o vapor d’água. Estima-se, segundo o livro de Cyro Rezende que as máquinas a vapor na Inglaterra no início do século XIX geravam uma força que se fosse pela mão humana necessitaria de 40 milhões de trabalhadores. O desenvolvimento da maquinaria e da grande indústria gerou a necessidade de máquinas mais resistentes, deste modo o ferro passou a ser produzido em mais quantidade e aplicado não as máquinas, mas aos meios de transportes, que já utilizavam o vapor como força propulsora, assim navios de ferro e locomotivas de ferro, ambos movidos a vapor, encurtaram distancias, baratearam os preços e proporcionando que os produtos circulassem e chegassem a diversos lugares, tomando a ferrovia, por exemplo, no fim do XIX nos EUA já havia mais de 340 mil km de ferrovias.




Por conseguinte, com as informações supracitadas podemos perceber como a Revolução Industrial transformou radicalmente a maneira de produzir e também a sociedade. Posto que originou uma grande migração do campo para a cidade, formando as cidades em gigantescos conglomerados para a época de então, contudo vale ressaltar que os aspectos abordados aqui falam mais especificamente da chamada I Revolução Industrial, ocorrida na Inglaterra, sobretudo e dominada pelo vapor como força propulsora e pelo ferro como principal elemento na composição das máquinas.
REFERÊNCIA:
REZENDE, Cyro. História econômica geral. São Paulo: Contexto, 2003.

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